Sunday, November 26, 2006

morte.

Incrível como tenho encarado esta palavra tão de perto, e pouco me tenha apercebido disso. Encaro hoje, tal como a encarei de frente à dois anos atrás precisamente, desde que algo me salvou de um ponto final certo na minha existência (pelo menos,sob a forma como sempre a fui conhecendo). Encaro a morte quando te vejo agora a ti, no hospital, entregue à impotência, à espera que ela, a senhora de quem falo, te leve, assim como quando a ouvi falar pela tua voz noutro dia (tal como também a encarei contigo,e ainda nem um ano fez sequer).
Encaro a no pôr-do-sol de todos os dias, quando o dia termina, e como consegue ser, ao mesmo tempo, a mais bela de todas as horas. Também a sinto no meu coração,quando ele bate por uma ausência que o faz pesar e o quanto isso nos consegue fazer sentir menos vivos por esse pedaço nosso estar longe de nós.
A morte está presente em nós,todos os dias, por muito que o queiramos negar, evitar ou ignorar. E é quando ela decide pregar mais uma das suas, deixando um rasto de saudade e de dor, e puxando tudo quanto consegue que só aí, conseguimos sentir realmente o que é estarmos vivos. Porque é esta palavra que tantas vezes tentamos silenciar, quando mudamos de assunto ou abanamos o pensamento à procura de coisas melhores, que realmente nos impele a todos os dias arriscarmos, aproveitarmos, disfrutarmos, pois ela, a trágica senhora de quem falo, qual caveira de foice e capa negra na mão, poderá amanhã aparecer e querer roubar o sentido a tudo o quanto vê. Se não fosse o "dom" da mortalidade, daríamos nós valor aos pequenos pedaços de sentimentos, emoções, momentos e gestos que nos vão envolvendo e tocando todos os dias?
É, talvez seja a ironia das ironias, mas é o verbo morrer a maior lição que temos para aprendermos a viver.