Friday, February 23, 2007

Dar tempo ao tempo

"Saber esperar, ter paciência, valorizar a distância e aprender a ter recuo em relação a certas situações e pessoas é um dom precioso. Ou melhor,é um seguro de vida.
Não há nada que mais nos custe do que sofrer e esperar. Se no que toca ao sofrimento muitas vezes o remédio não está nas nossas mãos, já em relação ao tempo que passa enquanto esperamos, podemos abreviá-lo tirando dele melhor partido. Nem sempre é fácil mas quase sempre é possível.
Quando esperamos que alguma coisa aconteça ou mude para melhor é frequente sentir angústia, desespero, impaciência, solidão, incompreensão, raiva, inveja, enfim um rol de emoções que,nem de perto nem de longe, aceleram o tempo ou contribuem para nos ajudar a sentir melhor durante a espera.
Como diz o provérbio, facilmente "quem espera, desespera" e é esta a tentação que devíamos, a todo o custo, resistir.
Vejamos, por exemplo, o que acontece quando acaba uma relação amorosa: a maior parte das pessoas não descansa enquanto não encontra um substituto para o seu amor e, mesmo sem saber, queima etapas fundamentais como a do "luto" pela perda. Sucedem-se, então, equívocos e surge uma nova forma de sofrimento que decorre de desencontros, espectativas frustradas e desilusões típicas destas situações.
Nestas alturas não é nada fácil dar tempo ao tempo. Pelo contrário, é extraordinariamente penoso esperar, deixar passar os minutos e as horas, recuar para a retaguarda, diluir a angústia e esperar por melhores dias. A solidão é angustiante, o sofrimento é agudo, tudo remete para o passado, nada nos parece seguro e o tempo parece preversamente suspenso. É nestas alturas de desespero que perdemos o controlo e acabamos por fazer os maiores disparates ou cair nos piores erros.
E, no entanto, secretamente temos a certeza de que se tivéssemos sabido esperar, se tivéssemos dado tempo ao tempo, tudo acabaria por passar e voltaríamos a sentir-nos outra vez de bem connosco e com o mundo.
À excepção da morte de um filho, acredito que o tempo tudo cura e apaga mas continua a ser muito difícil ter uma noção exacta dessa realidade. É infinitamente mais fácil fugir em frente, fingir que não percebemos os nossos erros do que esperar que o tempo passe sem querer que tudo aconteça no mesmo momento.
Não dar tempo ao tempo, é, usando uma imagem com mais impacto, a mesma coisa que correr à frente do comboio sabendo que, fatalmente, ele nos vai colher. Em vez de desatar a correr à frente do comboio, como muitas vezes fazemos, mais valia saltar para fora da linha e deixá-lo passar. Há muito que imaginamos e, por maior que seja a espera, algum há de chegar para nos levar para onde precisamos de ir.
Numa altura em que nos propomos fazer algumas coisas novas, talvez nos ajude olhar para o tempo de forma diferente."



Laurinda Alves
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abri o livro-"xix coisas para pensar"-desta senhora na biblioteca da faculdade,numa hora sem aulas,sem sequer saber o que me esperava.incrível como encontramos por vezes as melhores respostas aos nossos pensamentos,sentimentos e acções quando menos esperamos.engraçado também foi ter encontrado este texto fabuloso em pleno dia de aniversário de uma história-da qual também eu faço parte-onde,também nela,ambas as pessoas souberam dar tempo ao tempo para que se pudesse seguir em frente e assim,ser-se feliz. depois disto,acho que já não acredito muito em coincidências.nada é por acaso,e ultimamente a minha vida só me tem dado provas-saborosas-disso mesmo.